terça-feira, 31 de março de 2009

O QUE ESTAMOS FAZENDO COM O NOSSO OCEANO?

Vistos, em tempos modernos, como imensas latas de lixo, desaguadouros de esgotos e depósitos de resíduos tóxicos e radioativos, os oceanos mostram sinais de esgotamento.

Campinas - Quem tem mais de 40 anos e se aventurou pelas praias brasileiras, outrora desertas, talvez se lembre de quando Trindade, na divisa Rio-São Paulo, era um lugar perdido onde só se chegava a pé. Ou de quando a São Sebastião-Bertioga era dos surfistas e malucos, que tinham paciência de enfrentar 6 ou 7 horas de estradas de barro e caminhos nas praias, atravessando rios a vau e vigiando a maré. E os rios Camburi, Una, Juqueí e Sahí percorriam os sertões de casas alternativas, sem carregar esgotos. E Trancoso, na Bahia, era um pacato povoado à beira de um mar muito azul e a praia do Francês, em Alagoas, não tinha multidões de turistas, assim como Canoa Quebrada, Angra dos Reis, Genipabu, Juréia, Fernando de Noronha, Abrolhos…Quem conheceu esses paraísos antes da ocupação desordenada, dos axés e luaus estridentes e ininterruptos, do excesso de lotação e lixo, na areia e no mar, teve sorte, muita sorte. O Brasil de praias selvagens, beira de mata, altas ondas, mares tranqüilos, cheio de peixes e muita saúde está desaparecendo. Restam alguns cantos escondidos, pequenas praias onde só se chega por trilhas ou barcos, piscinas cercadas de recifes de coral, de difícil acesso. Mas mesmo essas começam a figurar na rotas dos saveiros/jangadas de turismo e vão sucumbindo ao pisoteio de massa, à falta de cuidado, à ausência de saneamento básico ou coleta de lixo e, sobretudo, à falta crônica de educação e conhecimento sobre os impactos do desordenamento humano sobre os ecossistemas costeiros e marinhos.Em qualquer lugar dos 8 mil quilômetros de costa brasileira, onde se construiu acesso - rodovias, sobretudo - a paisagem se transformou aceleradamente, em prejuízo dos mangues, dos estuários e barras de rios, do mar e, claro, de todos os seres que compõem a sua biodiversidade. Não por falta de alternativas, porque o Brasil teria tecnologia para evitar tal desastre, se usasse uma ferramenta chamada planejamento, tão antiga quanto as primeiras cidades. Nem por falta de avisos, porque o Brasil teve autoridades, cientistas e simples freqüentadores de seus paraísos costeiros, que se preocuparam em lutar contra a especulação imobiliária e a versão mais comum - e devastadora - do turismo.Faltou acreditar que os oceanos, apesar de imensos, tem limites e podem se degradar a partir do que se faz em terra. Faltou tomar a decisão política de não ceder ao mais fácil, ao mais lucrativo, ao mais imediato, e pensar a longo prazo.O erro não é exclusivamente brasileiro. Processos muito semelhantes acontecem em todos os cantos do mundo. Cada metro de praia bonita vale muito dinheiro e a preservação costuma perder, em todas as línguas, para a especulação imobiliária ou para as necessidades industriais e urbanas.O problema é insistir no erro, mesmo agora, quando os oceanos mostram sinais claros de que estão se degradando rapidamente e, em alguns casos, isso pode ser irreversível. Não estamos mais perdendo "apenas" os paraísos dos surfistas, mergulhadores, velejadores ou mochileiros. Estamos perdendo o equilíbrio da vida marinha e, com ele, vai embora também o equilíbrio da vida na Terra, pois os oceanos regulam o clima, a química da atmosfera, a circulação de água, além de fornecer alimento, com seus estoques pesqueiros.Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas, ONU, cerca de 70% das substâncias químicas e resíduos, que contaminam os oceanos vem de atividades humanas na zona costeira. Os outros 30% vem de acidentes ou descargas feitas por navios, plataformas de petróleo e incineradores de alto mar. Todos os anos são despejadas pelo menos 6,5 milhões de toneladas de lixo nos oceanos, sem contar os navios de cargas tóxicas, que misteriosamente desaparecem ou voltam ao porto vazios, depois de serem recusados por vários países; ou as contínuas descargas de esgotos; ou vazamentos não noticiados; ou naufrágios de submarinos nucleares e assim por diante.Os oceanos são imensos e parecem capazes de absorver tudo isso. Mas não são infinitos. O lixo e as descargas biológicas e tóxicas não desaparecem, nem se subtraem: eles se somam e se acumulam. E tem efeitos sobre a vida marinha. Basta lembrar dos encalhes de baleias e golfinhos, cujos sistema de navegação pode ser afetado pela poluição. Ou recordar a triste figura das aves cobertas de petróleo, debatendo-se como mortas-vivas. Ou analisar o grau de contaminação dos peixes de mangues, junto a aglomerações humanas, que, apesar de acumularem metais pesados, derivados de petróleo ou vetores de doenças, continuam sendo consumidos, diante da falta de opção de boa parte da população.É necessário e urgente dar mais atenção a estes sinais e buscar a proteção aos oceanos nos fóruns internacionais, que discutem convenções, acordos e tratados ambientais. Mas não só. O caminho para interromper o círculo vicioso e iniciar a recuperação dos oceanos começa no fim de semana de sol de cada um. Em movimentos domésticos de limpeza das praias e defesa do mar e seus habitantes, na interrupção e reversão da ocupação desordenada da zona costeira.É evidente que a imensa massa de água dos oceanos, os grandes recifes de coral e os estoques pesqueiros industriais não podem ser salvos por um surfista catando lata na praia; ou um hotel, que constrói sua própria estação de tratamento de esgotos; ou um turista, que deixa de comer lagosta no período de defeso. Mas, de grão em grão, até praias selvagens é possível reconstruir.


Autor: Programa Rede Jovem

Nome: Por Liana John

E-mail: comunicacao@redejovem.org.br

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