Que fique bem claro: o monumento em homenagem a João Cândido, "inaugurado" pelo Presidente Lula da Silva, foi transplantado do Palácio do Catete/Museu da República. A estátua lá estava, quase escondida, porque a Marinha de Guerra do Brasil, representada por seus almirantes brancos, vestidos de branco, não permitia (o prefeito césar maia obedeceu) que estivesse onde agora está.
Abaixo, texto publicado por MSN Notícias, a partir de reportagem do Estadão e o magnífico artigo do jornalista Mair Pena Neto, publicado no site Direto da Redação.
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Almirante Negro ganha monumento hoje no Rio
Depois de seis anos de resistência da Marinha, João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata, ganha hoje um monumento diante do mar, para além "das pedras pisadas do cais" que Aldir Blanc e João Bosco registraram na canção "Mestre-Sala dos Mares". Para marcar as comemorações do Dia da Consciência Negra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reinaugura hoje a estátua em homenagem ao Almirante Negro, que finalmente foi instalada em frente à Estação das Barcas, na Praça 15, no centro do Rio.
A obra estava pronta há seis anos, mas só depois da anistia póstuma ao ex-marinheiro, assinada por Lula há 4 meses, a Marinha concordou com a transferência dela para o centro. Diante da Baía de Guanabara - palco da revolta de 1910, que pôs fim aos castigos corporais nos navios de guerra -, a estátua ficará perto do 1.° Distrito Naval. Mesmo assim, a Força não mudou sua opinião sobre o homenageado. Para a Marinha, João Cândido não pode ser herói.
Projeto do ministro-chefe da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos, de 1993, a homenagem a João Cândido só saiu do papel em 2002, quando, como deputado, ele conseguiu recursos da Petrobras para custear a obra do artista plástico Walter Brito. À época, o prefeito Cesar Maia (DEM) não autorizou a instalação da estátua na Praça 15, porque a Marinha não concordara. A estátua ficou num canto do jardim do Palácio do Catete, onde funciona o Museu da República.
Para Santos, a Marinha acabará reconhecendo nele "um herói negro". "Zumbi levou 300 anos para ser reconhecido. A disciplina traz dificuldades aos militares para tratar do tema do ponto de vista histórico, mas não creio que haveria reflexos na hierarquia esse reconhecimento." Em nota, a Marinha reafirma que a liderança de João Cândido não pode ser considerada "ato de bravura ou de caráter humanitário".
O açoite do marinheiro Marcelino Rodrigues, no dia 22 de novembro de 1910, desencadeou a rebelião dos marinheiros, de maioria negra, contra os castigos físicos remanescentes da escravidão. À frente do grupo, a bordo do encouraçado Minas Gerais, estava João Cândido. Houve ataques à cidade e seis oficiais da Marinha foram mortos pelos revoltosos. Sobrevivente do degredo e do fuzilamento dos envolvidos, João Cândido foi expulso da Marinha. Morreu aos 89 anos, desamparado e com câncer, em 1969. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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SALVE O ALMIRANTE NEGRO
Por
Mair Pena Neto
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o presidente Lula celebra oficialmente a instalação da estátua de João Cândido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata, nas pedras pisadas do cais da Praça 15, no Rio de Janeiro.
O ato, carregado de simbolismo, é mais uma homenagem e reconhecimento a essa figura histórica do Brasil, que colocou a capital da República de joelhos, no início do século 20, para reivindicar, principalmente, o fim dos castigos físicos a que eram submetidos os marinheiros anos após a abolição da escravatura e o fim da monarquia.
Pelo ato que liderou, João Cândido teve uma vida de privações, que começa a ser reparada agora, com a anistia póstuma sancionada por Lula há quatro meses, embora ainda falte a reintegração à Marinha, com a incorporação de todos os soldos que lhe são devidos.
A instalação da estátua na Praça 15 é mais que justa pelo que o cais representa para a cidade, para a revolta e para a vida de João Cândido, que depois de expulso da Marinha passou a sobreviver da venda de peixes no local. A estátua, criada em 2007, foi inicialmente colocada nos jardins do Palácio do Catete, um dos locais para onde os revoltosos miraram seus canhões, porque a Marinha não tolerava a homenagem a um marinheiro expulso nas proximidades do 1º distrito naval. Com a anistia oficial, a estátua, enfim, será colocada de frente para a Baía de Guanabara, onde a maestria de João Cândido no comando das principais embarcações de guerra à época lhe valeu o apelido de Almirante Negro.
Há muito tempo nas águas da Guanabara, um filho de ex-escravos, inconformado com os maus tratos aos marinheiros, liderou um motim para dar dignidade à Marinha brasileira. Em novembro de 1910, cinco anos depois da revolta do encouraçado Potenkim, que também contestava, entre outras questões, os castigos físicos, João Cândido assume o comando do encouraçado Minas Gerais e aponta os seus canhões e o de mais três navios de guerra, para o Catete e outros pontos estratégicos da então capital federal.
Com a dignidade dos mestres-sala, comunicou aos poderosos que não podia aceitar mais a escravidão na Marinha. Acuado, o governo concorda em acabar com os castigos corporais e anistiar os revoltosos. Eduardo Galeano descreve poeticamente o maravilhoso momento da vitória da revolta: “João Cândido tira o lenço vermelho do pescoço e baixa a espada. O almirante torna a ser marinheiro”.
Quando baixa as armas e volta a ser marinheiro, o governo o trai. João Cândido é enviado para uma masmorra na ilha das Cobras e expulso da Marinha. Passa a estivador e vendedor de peixes na Praça 15 e morre em 1969, aos 89 anos, pobre e sem as honras que agora lhe são merecidamente prestadas.
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2 comentários:
Muito boa forma de se mostrar ao povo o tipo de sangue que corre em nossas veias. De um modo geral nos têm por malemolengas, e quando alguém se insurge contra as arbitrariedades acham que a pessoa é selvagem, de difícil trato, radical, arredia e irredutível como os habitantes do que resta de restinga em Maricá. Na Praia da Zacarias encontramos uma antiga colônia de pescadores açoitada por opressores desde 1940 e que tem referencia em passagens de nossa historia, mais uma vez ela está sendo oprimida. Ela aparece nos relatos dos Viajantes do Século XIX e possivelmente é remanescente do primeiro sesmeiro em 8 de janeiro de 1574. Teve sua saga relatada em livro dos antropólogos Marco Antonio da Silva Mello e Arno Vogel sob o título “GENTE DAS AREIAS” . Como em João Candido creio que corre muito mais que sangue em nossas veias, corre fogo e lava de vulcão. Devemos começar a alardear nossos heróis. Salve o Almirante Negro!
Salve, alguma coisa está mudando.
Que coisa boa!
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