domingo, 29 de junho de 2008

CERVEJA SEM LIMITE X DIREÇÃO

Há alguns dias, acompanhando um debate iniciado no blog I Said Goddamn!, publicamos opiniões sobre alcoolismo. Esta semana o Yahoo publicou notícias originárias do site www.webmotors.com sobre o assunto. Aproveitamos e reproduzimos essas notícias, por entendermos serem de grande valia para o debate e a formação de uma massa crítica.



(yahoo/noticias/webmotors)

Cerveja sem limite x direção

Propaganda estimula consumo irresponsável, revela pesquisa

Texto: Adriana Bernardino
Fotos: Ana Lúcia Martinelli

Para os pais que acham normal o consumo de álcool dos filhos, pesquisa realizada pelo Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com 282 adolescentes traz importantes revelações. Uma delas é que as propagandas estimulam o consumo exagerado e irresponsável de cerveja, ou seja, violam a maioria das regras do código brasileiro de auto-regulamentação publicitária.

Foram escolhidas, para a análise dos jovens, cinco de 32 propagandas veiculadas na televisão durante os jogos da Copa do Mundo na Alemanha, entre 2005/2006. Segundo avaliação dos adolescentes, 12 das 16 regras da auto-regulamentação publicitária incluídas na pesquisa foram violadas, entre elas: dirigir a propaganda a crianças e adolescentes; usar linguagem, recursos gráficos e audiovisuais relacionados ao universo infantil; explorar o erotismo, usar personagens e atores menores de 25 anos de idade; e conter cenas em que haja a ingestão do produto.

Embora a regra que se refere à associação positiva do consumo de álcool à condução de veículos não tenha sido violada, segundo julgamento dos pesquisados, as estatísticas de acidentes de trânsito no Brasil, causados por abuso de álcool com vítimas fatais, revelam outra realidade.

Os números contabilizados pelo Ministério dos Transportes e da Saúde e pelo Departamento Nacional de Trânsito assustam: são mais de 350 mil acidentes com vítimas, 35 mil mortos e 450 mil feridos todos os anos, a maioria em decorrência da combinação álcool e direção.

Em seu artigo “Um em cada quatro brasileiros bebe muito”, o jornalista Gilberto Dimenstein aponta a aceitação cultural do álcool e a desinformação sobre suas conseqüências. “Um pai fica apavorado quando o filho fuma um cigarro de maconha, mas é compreensivo diante de um porre”, avalia.

Para o psicanalista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Cláudio César Montoto, “as campanhas sobre a mistura letal de álcool e trânsito parece que não estão tendo muito efeito. Aliás, é muito comum, nas segundas-feiras, escutar os grandes comentários, entre as pessoas jovens, de quanto beberam no último final de semana”.

Montoto denuncia ainda outro perigoso comportamento “claro que, certo ou exagerado, cada um conta a sua façanha alcoólica com o intuito de superar o outro e merecer grandes elogios pelo fato de ‘ter apagado’, de chegar ‘tribêbado’ a casa etc. Esse paradigma conversacional é o que abunda nos papos juvenis, por exemplo, dos corredores universitários da segunda-feira. Tanto homens quanto mulheres consideram estar totalmente integrados, no grupo etário e na sociedade, graças ao uso desmedido de álcool”.

Na última quarta-feira (23/5), o presidente Lula anunciou, como medida, a Política Nacional sobre Bebidas Alcoólicas, com a qual o governo promoverá “a regulamentação, o monitoramento e a fiscalização da propaganda e publicidade de bebidas alcoólicas de modo a proteger segmentos populacionais vulneráveis ao consumo de álcool”.

Enquanto o Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja) critica a ação do governo – alegando que a propaganda não aumenta a quantidade de litros vendidos, apenas define fatias de mercado – as cervejarias atribuem às concorrentes o rótulo de mais antiética, como publicado na mídia nos últimos dias.

Em meio a essa guerra, a última gota sobra sempre para o jovem consumidor, que, para a própria sobrevivência, não pode abster-se de sua responsabilidade de escolha.

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