sexta-feira, 3 de abril de 2009

UMA VISÃO SOBRE O MOVIMENTO ESTUDANTIL - I

O documento que apresentamos a seguir foi apresentado ao Congresso Nacional da UNE e publicado pela Rede Jovem em 2001.
Embora distante oito anos de sua apresentação, o documento continua atual, bastando para tanto a inclusão de alguns outros nomes. O ensino público, gratuito e de qualidade continua distante da realidade brasileira e o ataque sistemático às universidades públicas em nada abaixou a guarda.
O Movimento Estudantil sempre foi ponta de lança dos movimentos sociais. Há muito existe um vazio na vida nacional da irreverência e da irresponsabilidade racional da juventude.
É urgente, portanto, a revitalização do movimento estudantil, que passa não só pela UNE, como pelas organizações estaduais, especialmente pelas uniões secundaristas.
O Brasil precisa.

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Nota: por ser longo, optamos por publicar o documento em 6 postagens.

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Tese da Kizomba sobre o Movimento Estudantil


APRESENTAÇÃO
Esta tese é fruto das reflexões de companheiros que fizeram parte do campo Não Vou me Adaptar (1997) e Kizomba (1999), que nos dois últimos congressos foram importantes forças de oposição à direção majoritária da UNE. Ademais, estes companheiros fazem parte desde 1998 do bloco de oposição Rompendo Amarras, constituído para fazer frente à hegemonia alcançada pelo PC do B nos últimos anos. Com estas notas esperamos contribuir para que este CONUNE se dê no mais elevado nível de debate político. Isto é fundamental para desconstruir maniqueísmos ou tentativas de desqualificar as diferentes concepções de ME que se apresentam no congresso e no dia-a-dia do movimento, classificando-as como “velhas disputas”, “lógica mesquinha”, “picuinha” etc.

Se é verdade que muitos atuam no movimento olhando para o próprio umbigo ou com a cabeça dentro da terra feito avestruzes, nem todas as propostas diferentes espelham tais práticas. Ao contrário, a história da UNE se confunde com as divergências históricas em torno dos diferentes olhares sobre o papel social do ME e da entidade, a permanente avaliação das crises do ME e suas perspectivas, a relação partido e movimento, as formas de luta etc.

Infelizmente, na lógica cupulista com que o CONUNE é organizado —desde o regimento até a dinâmica formal no decorrer do evento— torna-se quase impossível aprofundar o debate como gostaríamos.

Ainda assim, ousamos contribuir para a reflexão, com a produção de sínteses e a troca de experiências entre os diversos ativistas do ME. Que tenhamos um CONUNE que aponte elementos para a criação de uma nova cultura política no ME buscando reinventá-lo de forma a torná-lo autônomo, participativo, representativo, democrático, combativo e recheado de lutas!!!

INTRODUÇÃO
A UNE, cada dia mais, torna-se um instrumento privado dos interesses de uma corrente partidária: a UJS/PC do B, à qual pertencem a maioria de seus diretores, que se apresentam para este congresso na tese Agora só falta você.

Consideramos que é importante construir um projeto que tenha por objetivo promover uma verdadeira desprivatização na UNE, bem como criar uma nova cultura política no ME com novas formas de fazer movimento; formas que rompam com a lógica burocrática e autoritária, que encontra seu mecanismo de sustentação e articulação nas máquinas de emissão e venda de carteirinhas, nas quais a UNE e outras entidades vêm-se transformando; formas democráticas que garantam a nós estudantes a possibilidade de participar das decisões das entidades que pretendem representar-nos; formas plurais, que possam abarcar as lutas contra o racismo, contra a opressão das mulheres, contra a tentativa de homogeneização cultural imposta pelo imperialismo e a indústria cultural.

Assim, entendemos que o problema não é apenas a substituição da direção majoritária da UNE —ainda que este seja um passo determinante para desorganizar o pólo produtor e reprodutor da lógica aparelhista e burocratizante da atual direção. Mais do que isto, queremos radicalizar os mecanismos democráticos no ME: a defesa da democracia se consubstancia na idéia de dar espaço para a mais ampla diversidade no interior do movimento.

Portanto, não entendemos a democracia através da construção de fórmulas organizativas para as entidades. Nós a entendemos como um processo que se constrói na base do movimento e que incorpora gradativamente o maior número possível de estudantes. A existência da democracia é fundamental para termos um ME autônomo em relação aos partidos, sindicatos, governos e estado. Assim, a busca da autonomia implica a existência de foros do ME para que nós os estudantes, independente de classe, credo, opção ideológica e relação partidária, decidamos os rumos da entidade.

Entretanto, não basta contar com foros democráticos e plurais se as suas decisões não são respeitadas. Este CONUNE e os outros foros da UNE (CONEGS e CONEBS) devem ser respeitados e fortalecidos, pois são instâncias de debate e decisão legítimas do movimento. Queremos sublinhar estas reflexões pois é muito comum nestes eventos aparecerem demagogos defendendo a apartidarização do movimento e que a UNE “rompa com os guetos”. Devemos estar atentos pois de nada adianta “belos discursos sobre o que não fazer”. A prática é o critério da verdade e, às vezes, muitos dos que disseminam este discurso são os que mais aparelham a UNE, privatizando-a e colocando sua estrutura material e representatividade social a serviço da política de um gueto.

Ademais, devemos ter como horizonte que a defesa da Universidade pública, gratuita e de boa qualidade é a principal bandeira do movimento neste período. Devemos jogar todos os nossos esforços em torno do diagnóstico do desmonte das universidades, que leve em consideração as mais diversas formas de resistência. Portanto, em cada universidade do país é fundamental um diagnóstico sobre o atual estágio das coisas e um levantamento dos setores da universidade e da sociedade que estão em antagonismo com essa política. Deste modo poderemos articular um conjunto de lutas que visem a barrar o desmonte neoliberal articulado com as diferentes realidades presentes nas universidades.

KIZOMBA se apresenta com a disposição de lutar e contribuir para que o ME reaja às conseqüências nefastas do projeto neoliberal e ajude na luta do conjunto dos oprimidos de nossa sociedade por sua emancipação e libertação. A luta em defesa da universidade pública de qualidade e pela democratização do acesso ao ensino superior se insere nesta lógica. E a luta contra a burguesia, o latifúndio, o racismo e a opressão de gênero devem ser também a luta dos estudantes.

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