quarta-feira, 8 de abril de 2009

UMA VISÃO SOBRE O MOVIMENTO ESTUDANTIL - VI

Tese da Kizomba sobre o Movimento Estudantil


O NEGRO E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
O negro no Brasil, em toda sua história de luta que acumula uma larga experiência como agente organizador e definidor de projetos alternativos para o povo brasileiro, foi capaz de abolir duas vezes a violência do opressor (representada e materializada na "chibata"): a primeira, resultado das lutas dos negros (nos quilombos ou nas fazendas) contra a opressão do senhor que lhe destituía a humanidade e insistiam em tratar-lhes como "mercadorias"; a segunda, a de João Cândido que, como marinheiro, projetou ao mar —tão ligado a religiosidade dos afro-brasileiros— a revolta contra a violência imputada pelos superiores hierárquicos da Marinha de Guerra do Brasil.

Recomeçar sempre. A juventude negra brasileira entende muito bem esta mensagem: a chibata (convertida na violência das "Polícias") continua a estabelecer sua dominação racista e burguesa sobre aqueles que insistem em dizer "não". Daqueles que insistem em dizer que outro mundo é possível.

A questão do negro não é secundária numa discussão mais ampla sobre a universidade. Ao contrário, é uma das principais frentes de reflexão, a saber, pela própria natureza da sociedade em que vivemos. É evidente que os negros precisamos de escola, de universidade.

Mas não basta a universidade: é preciso que o negro pense, como negro que é, a universidade. A universidade brasileira não pode ser o espaço da “adequação” do negro ao mundo dos brancos: onde ele fala, propõe e se identifica não como o negro que é, mas como um branco que aspira a ser.

Temos que problematizar o credo neoliberal de que somos todos iguais (ao competir): que, por exemplo, os métodos de avaliação como o vestibular e o Exame Nacional de Cursos (ENEM) são justos e eficientes —desconsiderando a história e as desigualdades de toda uma sociedade. E situar, a partir disso, o negro como produto e produtor dessa sociedade: o peso de seu passado como escravo, e o presente de sua subordinação econômico-social, tendo plena consciência de sua importância como agente de profundas transformações sociais no mundo de hoje.

De negros rebelados é o que o movimento estudantil precisa; novas formas de organização são resultados da reflexão conjunta e democrática sobre a universidade em sua complexidade social na qual as diferenças sejam reconhecidas e os negros não figurem como coadjuvantes, mas como atores sociais que são do processo de construção de um projeto de ensino público brasileiro.

SOBRE A QUESTÃO DE GÊNERO
Existe na sociedade, historicamente construído, um espaço de ser homem e um espaço de ser mulher, e a organização destes espaços não se baseia na pluralidade, mas na desigualdade, opressão e na hierarquização das relações. Queremos afirmar a diferença entre mulheres e homens como identidade, ir além da igualdade como mimetismo: a verdadeira igualdade respeita a diferença.

É importante que recordemos como se deu o acesso da mulher ao mundo do trabalho assalariado. A revolução industrial produziu uma ruptura no cotidiano das mulheres, separou a casa do lugar de trabalho, mas, para elas, não produziu independência ou bem-estar. Constituiu um contingente humano de reserva, desorganizado, barato e facilmente manipulado. Ademais, o advento das duas grandes guerras no século XX catapultou a mulher ao mercado de trabalho, de forma irreversível, e, inclusive, acelerou a tomada de consciência das mulheres em direção ao rompimento com a opressão.

Hoje a implementação do projeto neoliberal adiciona elementos de barbárie às relações entre os gêneros. O movimento estudantil deve abraçar a luta contra esta realidade. O processo de transformações da sociedade, de término da opressão e subordinação começa agora e tem como matéria prima a construção de novos homens e novas mulheres. E esta construção emerge dos movimentos, não é representativa, mas coletiva e cotidiana.

O ME precisa combater toda forma de subordinação e opressão inclusive em seu próprio bojo, pois não podemos crer que a tais práticas são apenas “coisas dos outros”. Nós da Kizomba temos clareza que a verdadeira emancipação de homens e mulheres se dá na constituição de uma sociedade justa, igualitária, livre das amarras da opressão, do preconceito e da subordinação. Uma sociedade socialista que derrote, de forma definitiva, qualquer forma de subjugação de um ser humano pelo outro.

PROPOSTAS
•Realização de um Encontro Nacional de Universidades Públicas, para organizar uma ampla campanha em defesa da universidade pública, contra a reforma neoliberal de FHC e Paulo Renato;
•Meia-entrada para toda a juventude. Pela contribuição voluntária e pela quebra do monopólio da emissão das carteirinhas;
•Eleições diretas na UNE já!
•Fim da presidência da UNE, pela direção colegiada;
•Realização de um seminário sobre organização do movimento estudantil, no segundo semestre de 2001, para debater as diversas propostas que surgiram na última década (elevação da cota de mulheres, relação movimento geral/movimento de área etc.)

À LUTA COMPANHEIROS!
Esta tese não se encerra aqui. Queremos que seja uma contribuição à manutenção do debate amplo e fraterno e que atraia cada vez mais companheiros para juntos empreendermos a luta necessária contra o projeto neoliberal e a “privatização” da nossa entidade geral. Não estamos fechados ao debate mas defendemos com veemência nossas convicções. Cremos que só através da exposição clara e honesta das idéias, poderemos construir uma UNE cada vez mais forte e participante no cotidiano de cada um de nós.

Assim, reiteramos a idéia que deu origem ao nome de nossa tese: onde houver opressão, subjugação e exploração estaremos lá, dispostos a tudo para varrer a barbárie das relações humanas, em nome de uma sociedade justa, igualitária e emancipada, porque socialista.

Nenhum comentário: