sábado, 4 de abril de 2009

UMA VISÃO SOBRE O MOVIMENTO ESTUDANTIL - II

Tese da Kizomba sobre o Movimento Estudantil


CONJUNTURA NACIONAL OU A FARSA NEOLIBERAL
Desde o início dos anos 90, os movimentos sociais sofreram um refluxo considerável diante da ofensiva neoliberal implementada no Brasil por FHC e seus aliados. Através da diminuição brutal da oferta de emprego, dos juros exorbitantes que paralisaram a economia, das negociatas descaradas no Congresso Nacional em nome da “governabilidade”, das privatizações de empresas estratégicas para “fazer caixa” e pagar as dívidas, FHC foi, a passos largos, desmontando o frágil aparato democrático construído a duras penas nos anos 80.

Pior, FHC recrudesceu a repressão ao movimento social organizado, pois já em sua primeira gestão mostrava as garras, na greve dos petroleiros de 95, quando colocou até tanques nas refinarias para reprimir o movimento grevista. De lá para cá foram inúmeras as manifestações evidentes de que não haveria tréguas, seja na criminalização dos vários movimentos (dos quais o MST é o mais emblemático) seja na repressão policial às manifestações de rua, como há muito não se via.

A implantação dos regimes neoliberais na América Latina se deu ao arrepio da democracia. A década de 80 no Brasil via surgir, como nunca antes em nossa história, um movimento democrático pelas bases, com o aparecimento de partidos de trabalhadores, sindicatos livres e centrais sindicais como a CUT. A sociedade ia às ruas exigindo democracia e direitos e a ditadura caía pela pressão democrática contida nos anseios da população. Contudo, se no Brasil esta década significou um momento único na construção do processo democrático, na Europa e nos EUA já se implementara o projeto neoliberal, capitaneado por Thatcher e Reagan. E como sempre em nossa história recente, aplicado o projeto no Centro, urgia fazê-lo na periferia, em bases imperialistas como costuma ocorrer por estas plagas.

Assim, tanto faz se o presidente for um sociólogo como FHC, piloto de corridas como Menen, ditador de plantão como Fujimori ou gerente da Coca-Cola como Vicente Fox. Não estaríamos apenas um pouco atrasados em comparação ao parceiro argentino que, por ter feito a lição de casa antes, já estaria em fase acelerada de manifestação dessa crise de ausência total do Estado?

Para aqueles que acompanham o noticiário da crise argentina, a afirmação é comprovada pelos primeiros cortes requeridos pelo ajuste fiscal: diminuição das aposentadorias, corte brutal de verbas nas universidades (com possibilidade de diminuição de salário), fim de vários subsídios, taxação sobre o funcionalismo público etc... No momento seguinte, assume o “primeiro-ministro” Cavallo e pede “poderes especiais” para acabar com a crise. De tão parecido, é sugestiva a conclusão: para os neoliberais, os economistas não precisam nem estudar mais; basta-lhes comprar uma fita devidamente produzida pelo FMI e ligar no momento que precisassem anunciar medidas para conter crises econômicas em países periféricos.

A receita é sempre a mesma: ajuste fiscal, drenagem de recursos a título de pagamento da dívida externa, governar com medidas provisórias ou “poderes especiais”. Não é demais lembrar da famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal, que restringe todos os gastos e a capacidade de investimento do poder público, mantendo “saudáveis” as finanças do Estado. O remédio, compramos superfaturado do exterior.

Ora, o caso argentino pode ser o mais contundente mas não é o único. A tão propalada inserção no mundo “globalizado” (leia-se globarbarizado) se dá nos países periféricos pela porta dos fundos, como capachos de um capital internacional cada vez mais dominante mas, ainda e sempre, vinculado aos interesses das nações centrais. Cabe uma pergunta: por quê os maiores interessados na implantação da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) são os norte-americanos?

Sejamos ingênuos e acreditemos, como os economistas neoliberais, que o mercado consumidor se expandirá e poderemos vender nossos produtos aos norte-americanos, ávidos por adquirir mercadorias brasileiras. Entretanto, poderíamos apenas como suposição, considerar que os interesses são outros e que os norte-americanos querem é vender seus produtos aos brasileiros que possam comprar, causando mais desemprego e recessão em nosso país.

A cada dia soa mais emblemática a frase de FHC no começo de seu mandato em entrevista à Folha de SP, na qual afirmava que no Brasil “é impossível incluir todo mundo”. Talvez passe na cabeça dos tecnocratas do Planalto a idéia de que é possível criar mais alguns poucos milhões de consumidores plenos e os outros, talvez, façam o favor de morrer em silêncio.

Não obstante tais afirmações já contarem hoje com mais defensores que há anos atrás, quando éramos vistos, trabalhadores, sem-terra e estudantes apenas como os “jurássicos que defendiam as estatais”, não podemos crer que o governo FHC cairá por inércia. Longe estamos disso. A teia de proteção formada em 1994, através de um conluio entre partidos (PSDB, PFL, PMDB), mídia, o capital internacional e, inclusive, setores do movimento sindical (como a Força Sindical) continua de pé e funcionando. Caso surjam denúncias de corrupção na base aliada, o governo pode chegar a cortar na própria carne (como no caso do bisbilhoteiro Arruda), mas não desvia um milímetro no central da política, mantendo o arrocho, as privatizações e a política de juros nas alturas.

Qualquer possibilidade de estremecimento ou crítica ao programa, é rechaçada pelo governo como atrasada e antipatriótica, um rasgo de autoritarismo só encontrado nas mais ferrenhas ditaduras. Basta ver a operação de guerra montada (à custa de verbas e cargos) por FHC para evitar a CPI. A superação do projeto neoliberal no país se dará por outras vias. Nossa força vem de outro lugar: temos a arma da denúncia e as ruas. As ruas são o nosso terreno privilegiado de luta e é a elas que devemos recorrer, buscando constituir um grande movimento pela derrubada do governo FHC.

Urge estabelecer uma luta sem tréguas com o governo FHC, pois os tecnocratas de plantão tudo farão para que a subordinação e a subserviência ao capital estrangeiro sigam corroendo o que resta de nossas instituições democráticas e das estatais estratégicas. Não é à toa que a proposta de dolarização total da moeda já encontra eco em nosso país. Não deixa de ser coerente com o neoliberalismo, pois se as decisões políticas e econômicas já não são tomadas tendo em vista a soberania nacional e a independência política, entreguemos aos nossos “chefes” a função de gerir o Estado brasileiro e vamos fazer coisas mais “interessantes”, como transformar-nos em “amigos da escola”, por exemplo.Diante disto, não recrudescer a luta nas ruas só favorecerá à recomposição da burguesia e ao avanço das forças da reação.

É bastante claro também que esta luta não pode ser empreendida sob o comando de aventureiros descontentes da burguesia, como o governador Itamar Franco (ou seu ex-ministro da Fazenda, Ciro Gomes), que, quando esteve no Planalto, promoveu privatizações que FHC continuou e deu origem ao Plano Real, ou seja, é responsável direto por entregar o país aos tecnocratas neoliberais que ainda hoje o governam.

A luta pelo fim do governo FHC deve ser protagonizada pelos estudantes, pelos trabalhadores, pelos sindicatos, pelo MST, por todos aqueles que se dispõem a construir uma alternativa que aponte não para mais uma recomposição entre os dominadores de sempre, mas para um governo que represente os interesses dos trabalhadores e dos oprimidos, preparando o terreno para uma sociedade que reorganize as bases numa luta maior, anticapitalista e anti-imperialista, na direção de uma sociedade fraterna, solidária, igualitária, porque emancipada, e socialista.

PROPOSTAS
•Fora FHC e o FMI;
•Preparar uma nova Marcha dos 100 mil a Brasília, pelo fim do governo
•Instalação imediata da CPI da corrupção;
•Não pagamento das dívidas interna e externa;
•Não ao Plano Colômbia
•Abaixo a ALCA
•Pela autodeterminação dos povos!
•Pela caminhada contra o Muro da Vergonha
•Reforma agrária já, todo apoio à luta dos sem terra;
•Não à privatização do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Petrobrás e da ECT, de Furnas;
•Pela democratização dos meios de comunicação;

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